Relatório sobre 53ª Assembleia diocesana de Pastoral por Pe. Mario de Carli

“Por uma espiritualidade que interliga tudo, pois tudo está interligado” Dom Mattias William Smidht (1976-1992)

Aconteceu nos dias 11 a 13 de novembro deste ano, a 53ª Assembleia diocesana de Pastoral, no Centro de Treinamentos de Lideranças (CTL) em Ruy Barbosa com representantes de toda a diocese, entre eles religiosos e religiosas, leigos e lideranças das pastorais diocesanas, sacerdotes e nosso Bispo Dom André.

“A assembleia diocesana deve se tornar um momento importante de uma Igreja que deseja testemunhar e ser sinal de Deus no mundo. ”

Seu início, deu-se com a equipe diocesana de liturgia e de animação convidando toda a assembleia para à oração. Motivou-se “a celebrar a missão, a vida e as maravilhas de Deus presente nas comunidades cristãs e naqueles que buscam dias melhores”, fazendo uma constante referência ao compromisso de construir o projeto do reino de Deus. Dom André De Witte abriu a Assembleia diocesana, convidando todos a fazê-la num espírito de paz, na comum participação da missão feita no testemunho e no anúncio do Evangelho, como uma Igreja simples, sempre “em saída” e missionária.

O Frei Carlos Alberto, da Paróquia de Itaberaba coordenou os trabalhos da assembleia com três passos: olhar o passado, avaliá-lo e projetar o futuro, apresentando a “Análise da Conjuntura” baseada na Ação Católica Especializada no método “Ver-Julgar-Agir-Celebrar”. Assim, levou a assembleia a olhar nossa Igreja sobre seu testemunho nas últimas décadas, em conexão com a conjuntura atual brasileira e a forma de podemos ser Igreja em diálogo com as pessoas, evangelizando melhor.

  • Frei Luciano partilhou algumas das experiências pastorais de Dom Mattias, um homem de Deus, aberto e acolhedor a todos, que foi sempre tomado pelo sofrimento do povo nordestino. Manteve um relacionamento profundo com as pessoas, cultivou a gratuidade e não tinha complexos de falar com todas as pessoas. Falou do modo como o Bispo olhava sua vida e missão à entrega “alegremente a este Amor duro e pavoroso que vem de Deus, ser sinais de esperança e entregar a vida por amor a Jesus e chegar à vida eterna”. Segundo Frei Luciano, dias antes de falecer expressou tudo o que sentia “que tinha feito pouca coisa, nunca iria ver resultados, mas que sua missão foi semear a boa semente”.

Dessa forma, passou a analisar a sociedade atual, seus rumos e dilemas. Fez a “Análise de Conjuntura” referindo-se ao momento atual, disse que é importante decifrar o que está acontecendo por trás dos “jogos de cena” onde aparecem os “agentes visíveis”: políticos, policiais, juízes, comunicadores, líderes sociais, agentes religiosos, pois eles anunciam projetos e visões que cada classe procura impor como se fossem válidos para toda a sociedade. Estes estão em constante mutação num cenário “político-parlamentar-judiciário-mediático-econômico” sem rumo, indefinido e surpreendente a cada dia. Vem a PEC 241 “injusta e seletiva” atingindo os pobres. Há reações na sociedade civil, sobretudo nos estudantes que ocupam Escolas, Universidades e ruas para dizer que pensam um Brasil diferente. Nós como Igreja, que atitudes tomar?

Podemos reconhecer a derrota política das classes populares, mas devemos buscar e traçar uma estratégia inteiramente nova. Mais do que soluções imediatas, é importante saber se há tempo para reverter o processo e fundar desde já as bases de uma sociedade alternativa. Importante é regressar às bases e dialogar com todas as pessoas. Em segundo lugar, podemos ajudar viver a espiritualidade cristã que abrange todos os aspectos da vida, que se integre na grande comunidade de vida do Planeta. Em síntese, o Bem-viver. Em terceiro lugar, alimentar a esperança para que surja um novo projeto que reúna as forças para fazer acontecer a justiça e construir uma sociedade que demonstre sinais do reino de Deus, será este um sinal de que devemos continuar “a semear a boa semente” (Dom Mattias William Smidht).

 

Apresentação do Quadro das Respostas

Frei Carlos Alberto, coordenou a núcleo central da Assembleia: apresentou o “Quadro das Respostas” às perguntas dirigidas às Paróquias sobre as duas PRIORIDADES DE 2016.

A primeira Prioridade escolhida foi a Catequese de iniciação cristã com inspiração catecumenal, da qual, 21 Paróquias responderam ao questionário. Ao fazer referência ao modo como está sendo o processo de implantação da catequese, perguntou: “Por que o nosso povo faz questão de batizar, mas não de casar e muito menos de participar da Comunhão e outras vezes nem da comunidade participa? ” Esclareceu que Julgar, não é nossa melhor atitude, mas a de ajudar o povo a descobrir seu dom de ser batizado, de pertencer a uma comunidade cristã que deseja conhecer amar e seguir a Jesus para construir seu reino. É fundamental ter esperança para avançar nesse processo. Este processo deve ser lento e de muita conversa, paciência, fé, oração e acreditar que um dia chegaremos lá.

Em segundo lugar, refletiu com a assembleia, pois nós temos idéias muito bonitas, mas devemos mudar certas práticas. Catequese por etapas, ou seja, “terminou”, então oferecemos um “certificado”. Isso ainda atrapalha o processo, de fazer com a catequese seja uma caminhada por toda a vida, é algo constantemente a ser percorrido. Depois, notamos os meninos às vezes nunca vão à celebração ou vão poucas vezes, mas no dia da Primeira Comunhão, indagou Frei Carlos “como tiveram pouco contato com a comunidade, como poderão amar aquilo que não conhecem? ”

Porém, segundo o relatório da coordenadora da Pastoral de Catequese, Irmã, tem demonstrado sinais de crescimento. Há Paróquias empenhadas a esse processo e está dando sinais positivos. Porém, afirma que existe o Plano diocesano da Pastoral da Catequese com o objetivo de envolver todas as forças vivas das comunidades, terem em vista a dimensão “mistagógica”, isto é, mergulhar no “Mistério de Deus” para construir uma Fé mais amadurecida e comprometida com a vida e com a transformação da sociedade. Falou-se muito da formação, dificuldades e perseverança na vocação de ser catequista.

Ao analisarmos a 2ª Prioridade “Cuidado e defesa da vida numa dimensão sócio-ambiental”, notamos que ela está conectada com a primeira, pois é nosso compromisso de ser sal da terra e luz do mundo. Nesse sentido, as Pastorais Sociais têm trazido à tona os projetos das cisternas pela Cáritas, beneficiando mais de 12.000 famílias, pela CPT, pela Criança e a luta pela melhoria da Saúde pública. Foram focados os Fóruns das cidadanias, analisando a atuação das políticas públicas, direitos, painéis com os candidatos a prefeito, a convivência com o semi-árido e no Zonal I a criação de uma Associação de Reciclagem de Lixo. A presença do Marcelo de Barros, monge beneditino, quando esteve em outubro passado, nos alertou para voltarmos às bases, ter uma espiritualidade libertadora e não deixar cair a profecia.

 

Julgar: Iluminação bíblica

Por fim, para termos uma boa perspectiva de escolhas das Prioridades para 2017, foi necessário iluminá-las a partir da Bíblia. Por isso, o JULGAR tão evidente na Ação Católica, consiste em iluminar as práticas pastorais à luz da Palavra de Deus.  Irmã Ivani Favretto, destinada para o ano de 2017 na “Rede Eclesial Pan-Amazônica” (REPAM), apresentou o Profeta Miquéias, movido pela profunda experiência de Deus que se faz presente na realidade e na caminhada do povo. (Principais textos: MIQUÉIAS 2,1-2; 3,1-4; 4,3-8; 6,8).  Deus age na vida do povo, fortalecendo-o para que “abra os olhos” e veja o que está ao seu redor.

Segundo Ivani, ao ver nossos dias atuais, o Profeta tem consciência da instabilidade política, das maldades cometidas contra os pobres, das suas dores e esperanças. Ele é capaz de identificar os opressores do povo, que fazem suas alianças políticas com os sacerdotes do Templo de Jerusalém. Sabe quem está ao lado do povo. Nós, hoje, devemos olhar da mesma forma que o profeta. Devemos conhecer quem está na luta (nossos parceiros diários), onde estão os simpatizantes (não vão para a luta, mas estão com a gente), os alienados devem ser levantados, pois perto deles estão os adversários e inimigos que os puxam para o lado pior. Assim, o profeta parte em busca da base. É a massa do povo que necessita vida nova. Ajuda a resistir e alimenta a esperança que é a mola propulsora da caminhada de libertação. Faz o anúncio do Messias (Capítulo 6) que vem da pequena cidade, vem da base, que surgem das pequenas ações, vem do pequeno.

A mensagem central está no capítulo 6, 8: “Foi-te dado a conhecer ó homem, o que é bom, o que o Senhor exige de ti: nada mais que respeitar o direito, amar a fidelidade e aplicar-te a caminhar com teu Deus”. Eis uma mensagem que vem para nos iluminar e traçar nossas Prioridades Pastorais neste viés: “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com seu Deus. Reavivar o ânimo e a esperança do nosso povo”.

Se durante o ano de 2017 conseguirmos viver e testemunhar tudo isso, nossa missão de sermos discípulos (as) missionários (as) estará nos bons caminhos do Senhor. Enfim, foi um convite para recuperar a nossa esperança, resgatar o senso de justiça, olhar nossos direitos, caminhar na misericórdia e cuidar da vida em todas as suas dimensões.

No sábado, 12, às 19h30 na Catedral, durante a Celebração da Eucaristia presidida por D. André e concelebrada pelos sacerdotes, agradecimento a Deus pela presença dos Missionários da Emilia Reggia, dois seminaristas receberam a ordem do acolitato e um para o leitorado.

 

Escolha das Prioridades para 2017

Durante a Assembleia ficou visível nos “pronunciamentos, nos Informes e nos Assuntos extras” a necessidade de se construir a “Pastoral de Conjunto”, como uma Igreja “em saída”, ministerial, uma Catequese de iniciação cristã com inspiração catecumenal, pastorais, movimentos e serviços. Ouviu-se o relatório de várias Pastorais, (Catequese, Juventude, Cáritas) dos movimentos e dos serviços.

Nesse espírito é que se procurou buscar as Prioridades para 2017, ficando assim:

  1. “Ad intra”: “Iniciação à vida cristã com Inspiração Catecumenal”;
  2. “Ad destra”: “Cuidado e defesa da vida na dimensão sócio-ambiental”.

Porém, este último item será apresentado pela Irmã Silvana

 

A 53ª foi encerrada com Santa Missa presidida pelo Dispo D. André e concelebrada por nossos sacerdotes. Gratidão, fé e força, foram palavras expressivas do Bispo. No final da celebração, a Irmã Ivani Favretto dirigiu suas palavras de gratidão pela sua presença e trabalhos realizados nessa Diocese. Emocionada e ovacionada, disse que parte para a grande Amazônia, mas carrega em seu coração, toda a riqueza e a beleza que encontrou neste povo e nesta Diocese. Bispo deu sua benção e fez o envio de todos os participantes da assembleia. Seguiu-se com bons desejos de viver e praticar o que juntos foi decidido.

Texto: Pe. Mario de Carli

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