Homilia em Sufrágio pela Alma do Papa Francisco
21 março 2025 – Catedral Ruy Barbosa
Caros irmãos e irmãs,
Hoje, nos reunimos para celebrar a Santa Missa em sufrágio pela alma de nosso querido Papa Francisco, que faleceu santamente, após uma vida de profunda entrega ao serviço de Cristo e à Igreja. Em sua partida, perdemos não apenas um Papa, mas um verdadeiro pastor que guiou o rebanho com um coração cheio de misericórdia, alegria e esperança. Antes de nos adentrarmos em sua missão, é importante que reflitamos sobre o significado de sua posição na Igreja, e sobre nossa leal fidelidade a ele, como sucessor de São Pedro.
A Catequese sobre o Papa e o Seu Papel na Igreja
O Papa, como sabemos, é o sucessor de São Pedro, a quem Cristo confiou o cuidado de sua Igreja. O próprio Senhor, em Mateus 16, 18-19, disse a Pedro: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. As portas do inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus; tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu.” Essas palavras de Jesus revelam a grande missão dada a Pedro e aos seus sucessores: ser o pastor universal da Igreja, o vigário de Cristo na terra.
O Papa, portanto, não é apenas o líder de uma instituição humana, mas o representante de Cristo na Terra. Ele não fala por si mesmo, mas em nome de Cristo, o Senhor, e sua autoridade deriva diretamente dessa missão confiada por Jesus a São Pedro. O Papa é o Vigário de Cristo, o sucessor de São Pedro, e como tal, é o guia espiritual de todos os cristãos, não apenas uma figura de liderança terrena, mas um sinal visível da unidade da Igreja. Ele é também o Bispo de Roma, e como tal, preside a Igreja universal, com a colaboração dos bispos, seus irmãos, sucessores dos outros apóstolos.
Em sua vida, o Papa Francisco sempre nos lembrou da grande responsabilidade que temos para com ele, que nos guia em nome de Cristo. A fidelidade ao Papa não é apenas uma questão de dever, mas de amor e respeito pela autoridade que Cristo lhe deu. Ao seguirmos o Papa, seguimos o próprio Cristo.
- A) O Papa Alegremente Veio ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude
O Papa Francisco sempre foi um grande amigo dos jovens. Quando ele veio ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude em 2013, ele trouxe consigo o espírito da alegria pascal. Em sua visita, ele não apenas se dirigiu aos jovens com palavras de esperança, mas também os desafiou a viver a fé com coragem e autenticidade. Assim como as mulheres que, no Evangelho de hoje, receberam a notícia da ressurreição com grande alegria, o Papa também nos convidou a espalhar essa alegria pela nossa vida diária, a ser testemunhas da esperança de Cristo para o mundo. Ele, como sempre, tocou nos corações dos jovens, chamando-os a seguir a Cristo com entusiasmo e confiança.
- B) Deixou uma Mensagem no Sínodo da Juventude: Cristo Vive e Quer os Jovens Vivos, Priorizando-os, Especialmente os Pobres e Vulneráveis
No sínodo da juventude, Papa Francisco se fez mensageiro de um Cristo que está vivo e que quer ver os jovens vivos, engajados, e em plena atividade na Igreja. Ele nos recordou que a juventude não é uma fase da vida para ser ignorada, mas sim uma fase preciosa onde o Evangelho deve ser vivido com fervor e entusiasmo. O Papa sempre colocou a juventude como prioridade, lembrando-nos de que, para um cristão, ser jovem não é só uma questão de idade, mas uma atitude de coração: dispostos a seguir a Cristo com vigor, esperança e alegria. O Papa Francisco sempre destacou a opção preferencial pelos jovens, pelos pobres e pelos vulneráveis, aqueles que mais necessitam da luz e da misericórdia de Deus. Ele nos ensinou que a Igreja deve ser uma casa para todos, especialmente para os mais necessitados, e que os jovens são chamados a ser sinais vivos dessa opção de amor e solidariedade.
Em sua encíclica Evangelii Gaudium, o Papa nos exorta a não termos medo de nos comprometer com os jovens e a sociedade. Ele destaca que a evangelização não pode ser distante e formal, mas deve ir ao encontro da realidade concreta dos jovens, reconhecendo suas lutas, desafios e esperanças.
- C) Apresentou o Rosto da Misericórdia de Deus
Ao longo de seu pontificado, o Papa Francisco apresentou de maneira incansável o rosto misericordioso de Deus. Em tudo o que fez, ele procurou sempre acolher o próximo com ternura e compaixão. O Papa se tornou um farol da misericórdia, especialmente com a proclamação do Jubileu da Misericórdia, que foi um chamado a todos nós para viver a reconciliação, o perdão e o amor incondicional. Ele nos ensinou que, mesmo diante de nossas fraquezas, Deus nunca nos abandona. A misericórdia de Deus é um bálsamo que cura nossas feridas e nos restaura para a vida plena em Cristo.
Em Misericordiae Vultus, o Papa Francisco nos recorda que a misericórdia de Deus é uma “misericórdia sem fronteiras”, destinada a todos, especialmente aos que mais necessitam. Esse é um convite a ser misericordiosos uns com os outros, pois “felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).
- D) O Papa da Esperança
Por fim, Papa Francisco foi o Papa da esperança. Em todas as suas palavras e ações, ele sempre nos convidou a olhar para o futuro com confiança, mesmo em tempos difíceis. Assim como no Evangelho de hoje, quando as mulheres, ao verem o túmulo vazio, se encheram de alegria para anunciar a boa nova da ressurreição, o Papa nos convidou a ser mensageiros dessa boa nova: que Cristo vive e é nossa esperança. Em tempos de desafios e tribulações, ele nunca deixou de nos apontar para a luz de Cristo, lembrando-nos que, em nossa fé, há sempre razão para esperar, pois em Cristo a morte foi vencida. O Jubileu da Esperança inaugurado pelo amado Francisco, é um convite para todos nós renovarmos nossa esperança em Cristo, o Senhor da vida, que nos chama a viver com confiança no amor do Pai. Ele nos ensinou a viver uma esperança ativa, que nos leva a transformar o mundo, a nossa vida e a vida de outros.
- E) A Casa Comum
O Papa Francisco também teve uma grande preocupação com o cuidado da nossa “casa comum”. Em Laudato Si’, ele nos exortou a reconhecer que a preservação do meio ambiente e o cuidado com a criação são questões fundamentais para a humanidade e para a Igreja. Ele sempre insistiu que a Terra não é um recurso infinito, e que a destruição da natureza afeta diretamente os mais pobres e vulneráveis, os mesmos que ele tanto amava e defendia. Ele nos lembrou que nossa responsabilidade não é apenas com as gerações presentes, mas com as futuras, que também têm direito a um ambiente saudável e equilibrado.
O cuidado pela criação é, para o Papa, uma extensão do cuidado com o ser humano, que está intrinsicamente ligado à natureza. Ele nos pediu para viver a nossa fé de maneira mais responsável, reconhecendo a interdependência entre todos os seres humanos e a Terra. Como ele mesmo disse, “A terra, nossa casa comum, é como uma irmã com a qual compartilhamos nossa vida e uma bela irmã que nos acolhe, que nos gera e nos dá alimento.”
- F) A Sinodalidade, a Tolerância e o Respeito
Além de todos esses temas fundamentais, o Papa Francisco sempre nos ensinou sobre a importância da sinodalidade, da tolerância e do respeito. Como ele dizia em Evangelii Gaudium, “A Igreja é chamada a caminhar junta, em comunhão, e escutar o Espírito Santo que nos guia para uma vida em fraternidade.” O Papa sempre nos convidou a viver a Igreja de forma sinodal, onde bispos, sacerdotes, leigos e leigas, todos temos a responsabilidade de discernir juntos a vontade de Deus. A sinodalidade é a via pela qual a Igreja caminha como povo de Deus, e ele nos pediu para sermos sempre uma Igreja inclusiva, onde ninguém é deixado para trás.
Em relação à tolerância e ao respeito, o Papa Francisco sempre afirmou que devemos ser uma Igreja que promove o diálogo e o respeito entre as diferentes culturas e religiões. Como ele disse em Fratelli Tutti, “A dignidade humana e o respeito pela vida são a base para o verdadeiro diálogo.” Ele nos lembrou de que devemos sempre tratar o outro com respeito, especialmente aqueles que pensam ou vivem de maneira diferente de nós, sempre buscando a unidade na diversidade.
Agradecimento ao Papa Francisco
Com profunda gratidão em meu coração, recordo que tive o privilégio de estar com o Papa Francisco em quatro ocasiões, e também fui um dos primeiros bispos brasileiros a ser nomeado por ele em janeiro de 2014, quando ele tinha apenas meses como Papa. Essa nomeação foi um momento de grande alegria e uma profunda experiência de fé. O Papa Francisco me confiou a responsabilidade de cuidar de nossa Diocese, um gesto de confiança que sempre terei no coração. A sua humildade, sua abertura ao diálogo e sua constante preocupação com os pobres e vulneráveis são marcas que deixarão um legado duradouro na Igreja.
Conclusão:
Hoje, ao celebrarmos esta missa em sufrágio pela alma do Papa Francisco, nos lembramos de sua alegria contagiante, de seu amor incondicional pela juventude, de seu rosto misericordioso e de sua profunda esperança. Que, assim como ele, nós também possamos viver a alegria pascal, anunciando sempre a ressurreição de Cristo e levando aos outros o rosto misericordioso de Deus.
Quero concluir com palavras importantes do Papa Francisco, que sintetizam os principais temas de sua missão e de seu pontificado:
- A Misericórdia de Deus: “A misericórdia de Deus não tem limites. Ele é sempre misericordioso, e o seu perdão é oferecido a todos.”
- A Alegria do Evangelho: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida de todos os que se encontram com Jesus. Quem se encontra com Ele, jamais será o mesmo.”
- A Opção pelos Pobres: “A Igreja é chamada a ser pobre e a ser amiga dos pobres.”
- A Esperança: “A esperança não é esperar que as coisas aconteçam, mas é trabalhar para que elas aconteçam.”
- A Juventude e a Família: “Cristo vive e quer que os jovens sejam vivos, protagonistas e transformadores da sociedade.”
- A Sinodalidade: “A sinodalidade é a via pela qual a Igreja caminha como povo de Deus.”
- A Tolerância e o Respeito: “O respeito pelo outro, pela sua dignidade e pelos seus direitos, é a base para o verdadeiro diálogo.”
- A Casa Comum: “A terra, nossa casa comum, é como uma irmã com a qual compartilhamos nossa vida e uma bela irmã que nos acolhe, que nos gera e nos dá alimento.”
Com essas palavras do Papa Francisco, queremos hoje renovar nosso compromisso com a missão de Cristo, seguir o exemplo do Papa que tanto nos amou, e caminhar sempre com alegria, misericórdia, esperança, sinodalidade, tolerância, respeito e cuidado pela nossa casa comum. Que a luz da sua vida continue a iluminar nossos corações e que o Senhor, em sua infinita misericórdia, acolha seu servo fiel, Papa Francisco, na paz eterna.
Amém.
Dom Estevam dos Santos Silva Filho
Bispo de Ruy Barbosa



























