Homilia das Exéquias de Dom André de Witte na Catedral de Ruy Barbosa | 26 de abril 2021

Queridos irmãos no episcopado, estimados presbíteros, irmãos e irmãs,

Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas. (Cf Jo 10, 11)

 

Quando, no dia 12 de julho do ano passado, cheguei à frente da Catedral de Santo Antônio, para a minha posse como sucessor de Dom André, ao descer do carro, dom André acolheu-me com uma alegria sem igual, mostrou-me o Ícone do Bom Pastor, estampado na porta central e disse-me palavras amorosas a respeito de Jesus o Bom Pastor.

A presença de Dom André sempre nos confortava e transmitia segurança em cada passo dado, com o seu jeito humilde e sereno, nos inspirava a ir a diante na colheita dos frutos por ele tão bem semeados. Em Dom André, pude experimentar de perto, o dom de uma vida dedicada totalmente à semeadura da vinha do Senhor, homem de oração e escuta, da comunhão e da unidade:

Como são lindas as mãos “dos homens que semeiam, dos homens que perdoam, são lindas as mãos dos padres que celebram, dos consagrados, do trabalhador, são lindas as mãos do benfeitor”!

Ontem, por volta das 17h45 após breve sofrimento em um leito de hospital, exatamente no dia do Bom Pastor, nosso amado bispo retornou ao colo do seu amado Pastor.

Gostaria de ter palavras para traduzir o sentimento do seu amado povo: Desde os familiares da Bélgica, aos membros da CPT, da Cáritas Brasilira, da CNBB e de maneira especial dos pobres, as ovelhas das quais Dom André tanto zelou e doou a sua vida, como Bom Pastor.

O que ficará registrado para sempre na memória e nos anais da Diocese de Ruy Barbosa? Nas 23 paróquias, uma quase-paróquia e uma área pastoral? Nas mais de 700 comunidades todas elas assistidas por esse exímio Pastor? Ele será lembrado como um Pastor zeloso, humilde, próximo e cheio de ternura.

Gostaria de utilizar as mesmas palavras utilizadas ontem em minha homilia na criação da Quase-Paroquia Bom Pastor em Ipirá. Algumas dessas palavras busquei inspiração no nosso amado Papa Francisco.

∙      Mansidão e Ternura:  O Papa Francisco recorda-nos que Jesus era manso. Um dos sinais do bom Pastor é a mansidão. O Bom Pastor é manso. Um pastor que não é manso não é um bom pastor. Ele tem algo escondido, porque a mansidão se mostra como é, sem se defender. Pelo contrário, o pastor é terno, tem essa ternura da proximidade, conhece todas as ovelhas pelo nome e cuida de cada uma como se fosse a única, a ponto que, ao chegar à casa depois de um dia de trabalho, cansado, percebe que lhe falta uma, sai para trabalhar outra vez para a procurar e [encontrá-la] leva-a consigo, carrega-a sobre os ombros (cf. Lc 15, 4-5). Esse era o estilo de Dom André, um estilo de mansidão e ternura, estilo de Jesus o Bom Pastor.

∙      Proximidade e Compaixão: Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem. Assim como o Pai me conhece eu conheço o Pai.  Em todas as situações Jesus sempre se mostrou próximo. O Bom Pastor ouve o rebanho, guia o rebanho, cura o rebanho. E o rebanho sabe distinguir os pastores, não erra: o rebanho confia no Bom Pastor, confia em Jesus. Só o pastor que se assemelha a Jesus dá confiança ao rebanho. Esse era o estilo do amado Dom André, sempre muito próximo e cheio de compaixão.

 

Queridos irmãos,

Fomos todos edificados pela humildade de Dom André. Ele tinha só de sacerdócio, o tempo que eu tenho de vida. No ano que eu nasci, ele foi ordenado padre. Concelebrávamos, as quintas-feiras juntos. Comovia-me que por não termos coroinhas, ele mesmo com a bacia nas mãos lavava as minhas mãos e oferecia-me a toalha. Gesto que para ele era tão espontâneo. Quando me falava dos padres, só faltava canonizar um a um, e com seu despojamento deixou-me como legado um presbitério despojado e disponível.

Ele, após tornar-se emérito, por várias vezes, recordava as palavras de Santo Agostinho: “Para vocês eu sou bispo, com vocês eu sou cristão”. E dessa maneira, tornou-se um ícone de cristão e de pastor para todos nós. A sua dedicação a Igreja e a defesa dos direitos humanos, o fazia sempre pronunciar as palavras de Jesus Cristo, talvez o texto mais pregado e vivido por ele era: EU VIM PAR QUE TODOS TENHAM VIDA E A TENHAM EM ABUNDANCIA (Joao 10,10).  Não só o semiárido, as cisternas e projetos para o homem do campo detiveram a sua atenção. Também, tudo o que ligasse a cruz e as cruzes carregadas pelos sofredores de Jesus, era objeto de seu cuidado e de sua atenção.

Por tudo isso, meus irmãos, escolhemos para a primeira leitura as palavras de São Paulo Apostolo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda”.( 2 Tm 4, 7-8).

Que Nossa Senhora, tão amada por esse pastor, junto com São José o guardião da Igreja de Deus, o conduza até os pastos verdejantes onde se encontra o Pastor absoluto de nossas vidas.

 

Descanse em Paz, amado Dom André, obrigado em nome de seus padres e dos nossos pobres, de sua Igreja onde escolheu para repousar o seu corpo.

Amem!

 

+ Estevam dos Santos Silva Filho

Bispo Diocesano

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