“Eu vi e ouvi os clamores do meu povo nordestino e desci para liberta-lo”
Nós reunidas e reunidos no 7º Encontro Nordestão das Comunidades Eclesiais de Base, de 07 a 10 de julho de 2016, vindas dos muitos lugares, de muitas lutas e experiências, mulheres e homens desse nordeste brasileiro, que diariamente lutam e se organizam à luz do evangelho, e com o objetivo de refletir a conjuntura atual, viemos através desta nota de repúdio denunciar o desmonte de nossa democracia construída por tantos irmãos lutadores, devido ao jogo inescrupuloso da elite organizada a serviço de poucos e negando o direito de tantos. Tendo em vista as eleições municipais deste ano e não perdendo de vista a disputa de 2018. Repudiamos o jogo das alianças políticas com partidos de centro e de direita que desrespeitam as nossas realidades e desconsideram os aliados que sempre caminharam conosco e votaram a favor de projetos que contemplam o bem comum. Queremos a efetivação das políticas publicas como direito e não como troca ou barganha partidária; reafirmamos a reforma politica conforme o projeto construído pelos diversos setores da sociedade, entidades afins, igrejas cristãs e outras crenças religiosas e apresentado pela CNBB, e que seja discutida a partir dos nossos municípios, por isso deixamos também o apelo aos irmãos bispos e padres à criação de comitês com a base na lei 9840 ( contra a corrupção eleitoral).
É preciso que os gritos que vem das ruas no tocante a todos os tipos de violência: contra genocídio da juventude em especial jovens negros e não a maioridade penal, mulheres, povos tradicionais, e tantos outros que ficam à margem da sociedade. Queremos enfim, ser escutados porque somos nós que, de forma legitima carregamos a voz, clamores e gritos do povo sofrido dos nove estados nordestinos queremos também expressar nossa posição contrária e nossa indignação diante de vários projetos de morte do grande capital que avança sobre nordeste, territórios camponeses, comunidades e povos tradicionais, com destaque para a mineração e o MATOPIBA (Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia), uma fronteira agrícola que consideramos “a besta fera que chegou ao Cerrado”. São projetos construídos a partir dos gabinetes políticos, de favorecimento de grandes corporações empresariais que destroem a natureza, a nossa saúde e obrigam milhares de pessoas a migrarem de um canto a outro, muitas vezes para as cidades, agravando os problemas que já são tão sérios nos centros urbanos. Não aceitamos a tomada de nossas terras pelas grandes empresas, a concentração e poluição de nossas águas, o veneno que se joga sobre nós.
E cada um de nós seguiremos cantando:
“E eu vou por aí com meu canto; Abrindo estradas, quebrando encantos. / Rompendo as barreiras do coração, rasgando mentiras e ilusão; Meu Canto é Arma eu Sei/ E há tempos estou na Luta.” (Zé Vicente)
Teresina, Cidade Verde, 10 de Julho de 2016.