MISSÃO E EVANGELIZAÇÃO DA IGREJA: Dinamismo e integralidade no anúncio da Boa Notícia

Na Segunda-Feira, 27 de março, na Casa Carnaíba, Centro de Formação Pastoral e Missionária da Diocese de Juazeiro – Ba, reuniram-se 55 missionários do Regional NE3, (Padres, Irmãs Religiosas, Leigos e Leigas)vindos das dioceses de Salvador, Feira de Santana, Ruy Barbosa, Bonfim, Juazeiro e Petrolina. O encontro teve como objetivo aprofundar, uma vez mais, o rosto de uma Igreja missionária para:

  1. a) Partir, ir Além-Fronteiras;
  2. b) Cuidar daqueles que estão dentro da Igreja e
  3. c) Ir ao encontro daqueles que se afastaram da Igreja.

Este encontro era feito habitualmente apenas com a presença dos Padres. O último encontro dos Padres tratou do “apelo missionário” a partir do Documento “Missão e Cooperação Missionária Orientações para a Animação Missionária da Igreja no Brasil”. Dada a urgência deste tema, alargou-se a Tenda convidando os leigos e leigas, pois “a missão é de todos nós”. Ainda na mesma noite houve a apresentação de cada missionário/a. A acolhida concluiu-se com a oração e apresentação da agenda de trabalhos para o dia seguinte.

A manhã de Terça-Feira foi iniciada com a oração. Os símbolos do mandacaru, da vela e do cartaz da Campanha da Fraternidade 2017 fizeram eco de uma Igreja que deve resistir e manter firme sua missão de ser luz, comprometendo-se com a vida que se estende aos biomas brasileiros e a todos os seres criados por Deus.

Antes do meio dia, Frei Beto Breis OFM, Bispo de Juazeiro, saudou a assembléia e desejou que a Igreja seja esse sinal no mundo anunciando o Evangelho da Boa Notícia, redescobrindo novas metodologias, novos caminhos, tendo clareza para onde estamos caminhando. Concluiu sua fala com as palavras de Dom Hélder: “missão é partir e não devorar quilômetros….”

A equipe coordenadora deste evento convidou Elen Márcia Damico. Nascida em Piquete, interior de São Paulo e responde atualmente pelo SINE (Sistema Integrado da Nova Evangelização), no Brasil, precisamente na diocese de São José dos Campos – São Paulo.Elen teve seu momento de conversão aos 22 anos quando tinha emprego e estabilidade econômica garantida, deixou tudo quando se encontrou com Jesus Cristo, desde então sua vida não foi mais a mesma. O tema por ela apresentado foi muito positivo e relevante a todos os participantes.

O tema é por deveras longo e abrangente, pois a partir do SINE, segundo Elen, a Igreja tem dupla atividade: “Missão e Evangelização”. Isso acontece se “Missão e Evangelização” forem realizadas na perspectiva de uma responsabilidade integral para anunciar a Boa Notícia do reino de Deus.Tem metodologia própria com pistas de ações claras e objetivas.

A primeira colocação de Elenlevou a assembléiaa refletir sobre o despertar de uma Igreja em estado de “Missão e Evangelização”, na qual sua responsabilidade deve ser integral ao anunciar o Evangelho. Não se pode separar uma da outra. Segundo Elen, esse processo foi instalado (SINE) em São José dos Campos-SP e perfaz o caminho a mais de 30 anos. Como faz parte do SINE, afirmou que todas as siglas dentro da Igreja são habitualmente problemáticas devido à sua dificuldade de ser compreendida. Afirmou que o SINE tem o processo de evangelização com 16 Etapas, porém veio para tratar de apenas 4 temas.

O SINE apresentaum sistema que tem uma forma organizada e ordenada. Por isso, deve ser integral. Contém tudo do que é essencial e aquilo que deseja realizar. Tem seu método: O que fazer? Como fazer? De que forma pode ser ordenada e organizada? Para estes tempos atuais, pretende abranger a “Missão e a Pastoral da Igreja” dentro de uma forma bem organizada na perspectiva da “Nova Evangelização”. Nesse sentido, disse que todos devem reconhecer que a Paróquia não está ultrapassada, mas todos os cristãos têm a missão de anunciar a Boa Nova do reino e não estarem ligados por siglas e outras coisas semelhantes, mesmo que essas possam situar os cristãos na Igreja. Falou de uma coisa importante que não devemos nos descuidar com a pergunta: todas as paróquias têm um Plano Pastoral? Este deve estar ligado ao Plano Pastoral diocesano.

PLANO DIOCESANO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO

Ao começar a expor seu tema, logo de início viu a necessidade de se olhar para as paróquias e indagou se existe um “Plano Diocesano da Nova Evangelização”. Por que um planodiocesano?Os nossos trabalhos têm essa marca de um planejamento adequado, pensado, bem elaborado? Uma paróquia sem rumo e sem direção, não irá em parte nenhuma. Existem diretrizes que apontam para que em cada diocese tenha um rumo por onde caminhar. O que de fato encontramos são “atividades calendarizadas” do que plano de ação pastoral e evangelizador. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil apontam para onde devemos chegar: o Reino de Deus. Os Planos respondem: Como? Quem? Recursos? Prazos? Devemos discernir quais atividades devem entrar nessa calendarização. O Plano da CNBB das DGAE (Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil de 2015-2019) ao n. 102 diz que se deve alargar, ter coragem para ousar, construir, abrir horizontes. O Plano Pastoral é um conjunto de atividades articuladas entre si, tem um objetivo. Sem plano Pastoral o sonho não consegue tocar o chão da realidade.

O que cabe dentro do plano? Todas as atividades devem estar devidamente planejadas, com objetivos bem definidos, com a presença de todos os elementos essenciais bem articulados, avaliando o caminho percorrido. Infelizmente, constatou Elen que muitas paróquias e dioceses não têm um planejamento adequado, mas sim “calendarização de muitas atividades”, das quais, algumas delas nem mais devem entrar nas atividadescomuns. Citou o exemplo da falta de conexão com os trabalhos na administração de uma cidade: o povo luta durante 10 anos para que a prefeitura asfalte a rua. Assim que os trabalhos do asfalto são concluídos, chegam os homens a Embasa, abrem valas para ser colocada uma rede de esgoto ou de água. Nisso faltou Planejamento das atividades. Não podemos improvisar nossas ações pastorais e evangelizadoras.

Por isso, o DA n. 202 faz um alerta para aconteça “a integração de todos eles na unidadede um projeto evangelizador essencial que assegure uma comunhão missionária”. Não basta correr em direções opostas, mas nos organizarmos para nos sentirmos pertencentes a um corpo e trabalharmos pela unidade, enxergando o rumo doqual a Igreja precisa seguir: encontrar um projeto unificador das atividades. Assim, tendo uma ação planejada fica mais fácil responder a todas as necessidades e desafios pastorais.

Ora, cada diocese tem um bispo à frente da mesma que trabalha com seu clero que por sua vez realiza seu ministério pastoral nas paróquias, não sozinho, mas com Irmãs religiosas e as Lideranças das comunidades, pastorais e movimentos. Verificar se cada diocese tem seu Plano Pastoral, pois quem realiza tal plano são as paróquias em continuidade ao plano diocesano.

A EG n. 30 diz que cada Igreja particular,sob a orientação do seu bispo, é chamada à conversão missionária. Aponta também para que esse impulso missionário seja mais intenso, fecundo, feito no discernimento, havendo purificação e reforma. A conversão pastoral deveria atingir todas as dimensões da Igreja. Atividades calendarizadas muitas vezes “tornam-se” prioridades. Melhor ainda, se fazem assembléias e surgem prioridades. Lá aparece, por exemplo: Jovens, formação e família, as vezes faltando uma integralidade nas ações e objetivos em vista da evangelização integral. É fundamental a existência de um Plano Diocesano para a Nova Evangelização e se pergunte seriamente: O que é aEvangelização?

Dessa forma, Elen levou todos os participantes a fazer um longo percurso histórico de uma Igreja que sempre teve em seu coração esses “Planos Pastorais” para que a Evangelização fosse visível à sociedade. Já em 1975, o Papa Paulo VI na EvangeliiNunciandi veio nos mostrar de como a Evangelização fez um caminho positivo do “seu olhar para dentro da Igreja” volvendo o seu olhar para “fora dela mesma”. Assim, as Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja do Brasil a partir de 1975, tornou-se “Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil”.

O QUE É A EVANGELIZAÇÃO

Cumprindo apenas um aspecto da evangelização estamos evangelizando? Será que estamos no caminho certo? Com tantas iniciativas cada paróquia age de maneira distinta. Os dados de 1890 a 1980 mostram que a Igreja católica em 100 anos “perdeu” 10% de seus fieis. Ao passo que de 2000 até 2010 diminuiu 9,8% numa década. Eis a questão: Aquilo que estamos fazendo nos leva ao caminho certo? Estamos evangelizando? Evangelizar vem do Evangelho que significa “Boa Notícia” a Salvação em Jesus Cristo.

Evangelizar recebe o seu primeiro significado no livro dos Atos dos Apóstolos em que se passa a contar a outros essa Boa Nova, Boa Notícia, Paixão e Morte e Ressurreição do Senhor. Os que acreditavam tinham suas vidas transformadas porque acreditaram na Boa Notícia, no primeiro anúncio ou Querigma, anúncio, proclamação. Evangelizar era dar o Querigma para os que estavam fora.

No ano de 1965 a Igreja realizou o Concílio Ecumênico Vaticano II em Roma – Itália, e este conceito – Querigma – voltou a brilhar novamente no seio dela. Evangelizar é dar o Querigma. O conteúdo que aparece em primeiro lugar parte em dar a conhecer a todos a experiência de Jesus Cristo. Partir da experiência de encontro pessoal com cristo. A Catequese que revela esse conteúdo tem por missão formar os/as discípulos/as de Jesus Cristo. Isso deve ser dado a todos. A formação teológica é mais completa e exigente é oferecida a poucos e realizada na diocese. Porém, sempre encontramos leigos/as com o desejo de aprofundar mais a fé cristã.

O conceito “Evangelizar” teve sua expressão aprofundada e começou a se ampliar quando o Papa Paulo VIem 1975, escreveu a Evangelli Nunciandi, n. 2, que entre as muitas intuições, escreveu: “Evangelizar é dar a todos, toda a missão da Igreja pelo qual o reino de Deus é anunciado e estendido a todas as pessoas. É o cumprimento de toda a Igreja”. Realiza a missão de evangelizar em 4 aspectos a partir de Jesus Cristo,as dimensões : Profética, Sacerdotal e régia (ministério da Palavra), a comunhão e a dimensão Social. Isto tudo para que haja uma transformação da sociedade. Tanto o anúncio (Evangeli Gaudium. N. 180) como a experiência cristã tende a se manifestar na sociedade.

Em 1983 o Papa São João Paulo II falava que a Igreja do Terceiro Milênio necessitaria de um novo impulso missionário. Criou o dicastério para tratar especificamente da Nova Evangelização.

A encíclica “Redentoris Missio” tem conceitos claros sobre:

1ª. Missão é quando a Igreja vai aos povos e grupos humanos que não conhecem Jesus Cristo e seu Evangelho; (Imagem do Nômade).

2ª. Pastoral = onde a igreja esta implantada, tem estrutura e as pessoas estão anunciando o evangelho. Pastoral vem de pastoreio a igreja tem de pastorear; (Imagem do Pastor).

3ª. Nova Evangelização ou Re-evangelização: para países para grupos inteiros de batizados, levando uma vida afastada do evangelho, de Jesus Cristo e da Igreja. (Imagem do Pescador).

Assim, necessitamos de uma igreja em estado permanente de missão: ir ao encontro dos outros, cuidar bem e melhor dos que estão dentro e ir ao encontro daqueles que estão afastados.

Já o Papa Francisco na EG n. 25 distingue duas situações: “Pastoral e Missionária”, trata de duas dimensões urgentes em todas as partes da terra, sem deixar da pastoral, de quem está dentro e os que estão afastados. Nas paróquias o padre e o Conselho Pastoral tem a missão de dar o impulso na ação missionária. Existem também os Movimentos e Associações que não podem ser colocadas no mesmo nível, mas tem o dever do serviço e se colocar ao lado das paróquias, servir a igreja e não competir ou se posicionar contra criando empecilhos às ações pastorais da Igreja. A imagem de uma árvore na qual o tronco é a paróquia onde todos estão vinculados e os movimentos e associações são os ramos (EG n. 29). Assim, a Igreja vive no meio das casas (EG 28) dos seus filhos e das suas filhas. A Paróquia não é uma estrutura caduca, pois nela habita o Espírito de Deus presente nos seus filhos e filhas onde tudo pode ser renovado. Nesse sentido, o SINE apresenta 10 passos ou elementos para entender e distinguir Missão e Pastoral.

DEZ ELEMENTOS PARA ENTENDER MISSÃO E PASTORAL

Entender o esquema abaixo consiste em entrar no coração do SINE, pois Missão e Pastoral devem caminhar lado a lado, em sintonia, numa sinfonia. Para isto, evangelizar é realizar essa integralidade da Missão e da Pastoral.

EVANGELIZAR é realizar essa integralidade.

INTEGRALIDADE:

A Integralidade tem presente 4 elementos:

  1. a) Destinatários: “ir a todos” é missão irrenunciável;
  2. b) Objetivo de atingir “todo o homem e o homem todo”, atingindo a dimensão humana e espiritual;
  3. c) “Envolver a todos” assim a missão de evangelizar é de todos e não de alguns;
  4. d) “Dar tudo” e oferecer o que tem de bom: a mensagem da Alegria do Evangelho.

 

Porém, a realização da Integralidade da Nova Evangelização passa por 10 elementos essenciais para podermos entender o quadro acima referido da Missão + Pastoral:

 

1º.Testemunho de vida, este se for favorável, atrai as pessoas; do contrário, atrapalha.

2º. Testificação da Palavra, é dar ao mundo aquilo que experimentamos;

3º. Saída Missionária. Se não tivermos saído, poderemos dizer que somos missionários?

4º. Fortalecido pelo Retiro de Evangelização Querigmática (novo nascimento);

5º. Realizado, efetivado sua concretização numa comunidade que os acolhe e os torna firmes na fé (DA 110). Comunidade que continua o processo de crescimento na fé pela catequese,

(6º. A fim de se preparar para ser discípulo-missionário. Se a catequese for permanente, a Iniciação à Vida Cristã oferece uma nova visão aos Sacramentos;

7º. Abrindo os cristãos ao encontro com Cristo para sempre segui-lo numa caminhada permanente. Os últimos três passos apresentam

8º. A Ação Social = prática da Caridadevisa a promoção humana.

9º. Para isto em penúltimo aspecto é fundamental o Envolvimento Apostólico de Todos.

10º. O DA 146 e 174 é convocação e formação de seus leigos em que tudo está interligado com os Setores e Ministérios ou Pastoraisengajando todos os batizados a ir em missão e evangelizar.

Para a parte conclusiva da temática apresentada “Missão + Pastoral”, Elen conseguiu fechar o painel por ela apresentado, fazendo uma rica apresentação histórica de todas as encíclicas do magistério da Igreja numa “costura” limpa, clara e cheia de esperança.Ficou o apelo essencial de nossa identidade de seguidores do Mestre: saiamos para oferecer Jesus Cristo a todos os povos. A intuição fundamental parte do DA 11 na qual, é urgente para a Igreja, relançar a missão nessas novas circunstâncias que estão nascendo: fidelidade e audácia, pois passou o tempo de esperar.  A causa missionária deve ser a primeira de todas as causas. A “Redemptoris Missio”n.44 mantém a prioridade da missão da igreja.

Missão é sair. Significa ir a TODOS, buscar e não mais esperar que venham, mas alcançar quem está “fora” da nossa experiência de Deus e de Fé, lá onde as pessoas estão.  A Conferência de Santo Domingo, n. 131, afirma que a Igreja deve sair ao encontro dos que estão afastados. O DA 226, apresenta que devemos ir ao encontro das pessoas e interessar-se por sua situação, a fim de reencantá-lo com a Igreja e convidá-los a retornar para ela.As DGAE ao n. 34, afirma que surge a urgência de pensar estruturas pastorais que favoreçam a realização da atual consciência missionária. Dois aspectos essenciais: que cada Paróquia busque construir uma Missão intensiva feita uma ou duas vezes por ano e uma Missão Permanente com visitas habituais.

A Igreja em saída é uma Igreja aberta e não fechada. Ir de casa por casa, família por família, pessoa por pessoa, pois o encontro é pessoal.É a pessoa que acolhe a visita. Sair implica em caminhar, caminhar implica em usar os pés. “Como são belos os pés do mensageiro”. O mundo oferece algo que as ofusca diante da experiência de Fé e de Deus e muitos onde vão procurar a verdade, encontram a utilidade e não a verdade. Nós temos um Tesouro a oferecer que é Jesus Cristo. Sempre tem quem agradece a visita “eu esperei muito tempo por essa visita. Ainda bem que vocês chegaram”.

Pe. Mário De Carli, imc

Nova Redenção – Bahia

 

 

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