Homilia de posse de Dom Estevam

HOMILIA DA POSSE DE DOM ESTEVAM DOS SANTOS SILVA FILHO NA DIOCESE DE RUY BARBOSA – BAHIA
12 de julho de 2020

​Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo Metropolitano de Feira de Santana, Dom Zanoni Demettino Castro, meu conterrâneo e amigo. Permitam-me deixar de lado o protocolo e chamá-los todos de meus irmãos e minhas irmãs, aqui reunidos na igreja Catedral de Santo Antonio, representando todo o povo de Deus desta querida Diocese de Ruy Barbosa: os padres, diáconos, consagrados e consagradas, leigos e leigas, maioria do povo de Deus, seminaristas e vocacionados, que por motivo da pandemia não estão aqui presencialmente, mas nos acompanhando pelas redes sociais.

​Minha saudação especial a Dom André de Witte, 4º Bispo desta Diocese, ao qual agradeço imensamente sua generosa acolhida, desde o momento do anúncio de minha nomeação, pelo Papa Francisco, no dia 15 de abril. Agradeço ao senhor, por seu incansável trabalho à frente desta Igreja Particular, especialmente junto aos pobres e mais necessitados, ao longo desses 26 anos de profícuo pastoreio. Minha saudação fraterna a Dom Carlos Alberto, Bispo de Juazeiro, representando a presidência e os demais bispos deste nosso Regional NE-3 da CNBB. O quanto eles gostariam de estar também aqui neste momento de Ação de Graças! Minha gratidão pelo carinho e mensagens enviadas.

​Minha cordial saudação ao Senhor Prefeito de Ruy Barbosa, Cláudio Serrado, na pessoa de quem saúdo os Prefeitos e demais autoridades constituídas deste e dos outros 21 Municípios que compõem esta Diocese.

​“O Semeador saiu para semear” (Mt 13, 1-9; 18-23). As parábolas são guias para se compreender o Reino de Deus, que é exigente e pressupõe o discernimento e acolhida da Palavra para, a partir daí, trilhar os caminhos da justiça de Deus. É este caminho que pretendo fazer convosco.

​Ontem pisei, pela primeira vez, este solo sagrado da Diocese de Ruy Barbosa, encravado no semiárido e aos pés da Chapada Diamantina. Venho com simplicidade e humildade, para continuar semeando convosco as sementes do Reino de Deus. Venho com o coração confiante, feliz e esperançoso. Estou confiante porque sei que a graça de Deus não falta aos seus. Ela nunca faltou ao longo de minha vida, no meu ministério presbiteral e episcopal. Hoje, peço licença para adentrar no solo fértil dos vossos corações e de vossas vidas. E por isso vos pergunto: posso entrar nessa casa e me fazer um com vocês?

​Assim, meus irmãos e irmãs, hoje inicio minha missão pastoral nesta querida Diocese de Ruy Barbosa, como seu quinto Bispo. Entro numa Igreja que tem uma tradição e uma grande história de 61 anos. Quero ser também um desses colaboradores neste belo caminho de fé e missão. Recebo uma herança que o Senhor construiu, através da dedicação e doação generosa de bispos, padres, religiosos(as), diáconos, leigos e leigas. Dentre estes, relembro os meus predecessores que por aqui passaram. Grandes homens de Deus e cheios de ideais, fazendo seus sonhos tornarem-se realidade: Dom Epaminondas José de Araújo (falecido há 20 anos); 1º Bispo Diocesano de Ruy Barbosa; Dom José Adelino Dantas, 2º Bispo desta Diocese, (falecido há 27 anos); Dom Mathias William Schmidt, O.S.B., 3º Bispo de Ruy Barbosa, (falecido há 28 anos, com apenas 61 anos de idade); e o nosso Dom André de Witte, 4º Bispo Diocesano e meu antecessor imediato que dedicou sua vida na condução desta Igreja nos últimos 26 anos.

​Todos buscaram perfazer esse caminho que o Evangelho de hoje nos apresenta, do semeador que sai espalhando as sementes no meio de espinhos e terrenos diversos, e que depois surgem como frutos que se multiplicam. Precisamos aprender sempre mais com os verdadeiros semeadores missionários! E como já mencionamos, dentre eles destacamos tantos leigos e leigas catequistas e missionários, que aqui chegaram bem antes, mexeram com a terra, retiraram pedras e enfrentaram espinhos.

​Nesta trilha missionária em vista da construção do Reino de Deus, não poderia deixar de citar aqui um importante instrumento e guia que muito contribuirá para a nossa missão pastoral, o atual Plano Pastoral desta Diocese, aprovado na última Assembleia Diocesana, elaborado à luz das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. O Plano Pastoral, contextualizado no Evangelho do semeador, quer ser um impulso à “Igreja em saída” tão motivada pelo amado Papa Francisco. A Igreja é uma família, um lar, uma casa de acolhimento e de amor. Nela, os ausentes são tão importantes que, os que estão em casa, vão à procura deles com seus círculos bíblicos, com suas santas missões e com os seus pilares do pão da Palavra, da caridade e da missão.

​O Papa Francisco na exortação “Gaudete et Exsultate” motiva 5 metas para a caminhada rumo à santidade e, consequentemente, para todos os semeadores que saem a semear:

  1. A tolerância, paciência e mansidão. Somente com a humildade de Cristo, com mansidão e tolerância é que se semeia nas pegadas de Cristo.
  2. Alegria e sentido de humor. No solo dos corações, somente a alegria tem o rosto do Semeador que é Jesus Cristo. Viver com alegria e sentido de humor, sem perder o realismo. Ser Cristão, nos lembra o Papa Francisco, é “alegria no Espirito Santo”.
  3. Ter parrezia, isto é, ter entusiasmo pastoral. Jesus, o semeador do Pai ia ao encontro de todos dizendo: não tenhais medo! (Mc 6,50). “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28,20). Ousadia, entusiasmo, falar com liberdade, ardor apostólico, tudo isso está contido no termo parrezia e se encontra no plano pastoral diocesano, extraído das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil.
  4. Viver em Comunidade: A comunidade é o espaço teologal onde Deus se encontra de uma forma muito visível. Isolados, perdemos o sentido da realidade, a clareza interior. A santificação é um caminho comunitário que se deve fazer sempre dois a dois, como recorda o Papa e tão bem entendemos no Evangelho de hoje. Nas mais de 600 comunidades aqui da Diocese de Ruy Barbosa, e nas comunidades de todo este imenso Brasil, somos chamados a imitar Jesus, que prestava atenção aos detalhes, desde a ovelha perdida, o vinho que faltava e a viúva que só tinha duas moedinhas para oferecer.
  5. A quinta característica do semeador que trilha os caminhos da santidade é a oração constante. A suplica é a expressão do coração que confia em Deus, pois sabe que sozinho não consegue. Uma espiritualidade encarnada, à luz da Leitura Orante da Palavra de Deus, mais doce que o mel (Sl 119/118) e “espada de dois gumes”(Hb 4,12), consente em nos determos na escuta ao Mestre, fazendo de sua Palavra farol para os nossos passos e luz para os nossos caminhos (Sl119).

​Caros irmãos, em nosso Plano Pastoral, intitulado Comunidade de Comunidades/Paróquia Missionária, a Igreja é chamada de Igreja Discípula/Servidora; Igreja acolhedora e Igreja Missionária. O Pilar da Caridade descreve que, “amar a Deus e ao próximo sem caridade, a oração não é cristã.” Recorda-nos também que a própria oração eucarística reza: “dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações…”. As questões sociais, a defesa da vida, quanto os desafios ecológicas tão presentes em nossa Diocese é um tesouro que devemos manter com postura de diálogo e de verdadeiro testemunho de serviço.

​Certo de que as portas dos vossos corações estão abertas, o novo Bispo chega desejando tocar, primeiramente, os corações de todos os que nessa pandemia, causada pela COVID-19, estão sentindo o efeito de outras grandes epidemias que já nos atingiam, mas não nos dávamos conta, como a epidemia da indiferença, do racismo, das desigualdades sociais e de tantas outras. O Bispo assegura, desde já, suas orações pelos doentes, entristecidos, idosos, jovens e pelas crianças. Também pelos poderes constituídos para que governem com justiça, e por todos os que nessa pandemia estão priorizando a vida, ficando em casa e cuidando dos mais vulneráveis.

​Enquanto rezo por vocês, peço também a todos os meus diocesanos que rezem muito pela minha santificação e santificação do nosso clero, este clero que reza por vocês e com vocês, este clero que vos distribui as graças oriundas do céu, que batiza, confessa, escuta, aconselha, doa-se de domingo a domingo, mas que também é humano, cheio de fraquezas e cercado de tentações. Necessitamos de vossas orações. Rezem também para que Nosso Senhor faça surgir numerosas e santas vocações, pois a messe é grande e poucos são os operários.

​Por fim, imploro que Santa Dulce dos Pobres, tão devota de Santo Antônio, nosso excelso padroeiro, aos pés da Mãe Aparecida, padroeira do Brasil, abençoe-nos para sermos verdadeiros semeadores da paz e da bondade do Senhor. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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